quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Projeto Apoio de Circulação de Dança promovido pelo Secretaria Estado da Cultura Apresenta: Ballet de Londrina em "Decalque" - Agenda out / nov 2007

Projeto Apoio de Circulação de Dança promovido pelo Secretaria Estado da Cultura

Apresenta Ballet de Londrina em "Decalque"

“Decalque” é decorrência de um processo de pesquisa iniciado pelo Ballet de Londrina em 2006, com o espetáculo “Fale Baixo”, cuja proposta principal é trabalhar novos e diferentes eixos de equilíbrio e apoios para locomoção. Na exploração desse processo, foi na música “Romeu e Julieta”, de Prokofiev, que se identificou a energia do movimento investigado no atual momento. Desta forma, a opção por montar este clássico de Shakespeare não partiu da idéia de contar a já tão conhecida história dos dois amantes de Verona, mas usá-la como substrato para a construção da dança. O motivo principal da criação não foi o tema, mas o movimento.

O processo foi um desafio para o elenco que, tendo corpos solidamente formados na vertical, através de anos de estudo de ballet clássico, teve que construir novos apoios e eixos, fazendo de suas limitações fonte de descoberta de movimentos singulares e até dotados de algum ineditismo. O espetáculo apresenta um roteiro de movimentos que conduz os personagens/bailarinos a transitarem em um plano onde o físico é exigido ao extremo, criando assim o ambiente da obra.

Sobre o drama de Shakespeare, a intenção é apenas fazer aparecer ou surgir lembranças que quase todos têm da já tão conhecida história. Daí usar o título “Decalque”, sem a preocupação com o sentido, muitas vezes, negativo que a palavra pode carregar. Definida pelos dicionários como: ato de copiar; imitação, plágio, a palavra também é apresentada como qualquer imagem que lembre aquela obtida pelo decalque, ou ainda, como fazer aparecer ou surgir, como que reproduzido por decalcomania (processo de transportar desenhos de um papel para outro papel).

Em “Decalque”, mais que a narrativa, o que se explora, são os aspectos universais vividos pelos personagens como a questão do destino, da solidão, da paixão, da proibição, da morte. O público, por vezes, encontrará referências claras ao enredo, mas isso logo é esquecido, ficando aquilo que foi o motivo da criação: o movimento. Não há só um Romeu ou uma Julieta. Os bailarinos se revezam nestes papéis nas mais diversas combinações e fragmentos de cena se reproduzem, como que por decalque, com diferentes bailarinos, em diferentes momentos. Os demais personagens não estão presentes na sua totalidade, havendo apenas algumas aparições, mas sem um compromisso de identificá-los para o público. A idéia é provocar impressões de personagens e situações dramáticas, mais que apresentar personagens ou desenvolver situações literais.

A obra “Romeu e Julieta” já foi explorada por Leonardo Ramos, em dois trabalhos anteriores do Ballet de Londrina: o dueto “...&...”, em 1996, apenas para a música do balcão de Prokofiev, e “ 2 e nada mais”, em 1998, para a música “West Side Story” de Bernstein. No entanto, é em Decalque – cuja música e tema, a princípio, serviriam de simples substrato - que a força e dramaticidade da trilha, da história e da coreografia se apresentam com maior impacto, nitidez e emoção. Resultado tanto do trabalho de pesquisa de movimento, quanto do amadurecimento do elenco e do coreógrafo.

Sobre a música:

A música Romeu e Julieta do compositor russo Sergei Prokofiev , foi composta em 1936, estreou em 30 dezembro de 1938 com o Ballet do Teatro Nacional de Brno, na República Checa. Mas a estréia considerada para seu currículo foi em 1940, pelo Kirov.
O Teatro Kirov de Leningrado queria apresentar um novo ballet de Prokofiev, mas quando, em 34, o autor propôs “Romeu e Julieta” como tema para novo ballet, as autoridades do teatro rejeitaram. Como o próprio Prokofieve explicou depois, o problema estava no final da história, porque, para as autoridades do Kirov “ pessoas vivas podem dançar, as mortas não”. Então, o compositor assinou um contrato com o Teatro Bolshoi, de Moscou, e completou o trabalho em 1935, quando, foi novamente frustrado porque os diretores do Bolshoi consideraram a música “indançável”. Extensivamente revisado, o ballet finalmente estreou em 30 de dezembro de 1938 com o Ballet do Teatro Nacional de Brno, na República Checa, onde obteve uma recepção entusiástica. Somente após este sucesso que o Kirov e Bolshoi montaram o espetáculo em 1940 em 1946 respectivamente.
Romeu e Julieta de Prokofiev é ainda considerado um de seus melhores trabalhos. Mas, por que o compositor russo decidiu criar – seguindo os passos do poema sinfônico de Tchaikovsky, da opera de Daniel Steibelt e a trilha para ballet de Constant Lambert – mais uma obra a partir da popular tragédia de Shakespeare? Como o próprio Prokofiev revela em sua autobiografia, o compositor vinha estando mais e mais atento aos aspectos líricos de sua música e uma trilha baseada no drama Romeu e Julieta permitiria a ela explorar completamente esse elemento lírico. De fato, Prokofiev compôs temas para expressar emoções, para significar a aparição de personagens particulares no palco. Esses temas seriam recorrentes através de toda a trilha, e essa característica unificante da música contribuiu em parte para seu eventual sucesso.

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Serviço:
Apoio de Circulação de Dança promovido pelo Secretaria Estado da Cultura

OUTUBRO
Dia 20 em Londrina no Teatro Ouro Verde
Dia 28 em Itajaí-SC no Teatro Municipal de Itajaí

NOVEMBRO

Dia 09 em Campo Mourão-PR no Teatro Municipal
Dia 10 em Arapongas-PR no Cine-Teatro Mauá
Dia 14 em Apucarana-PR no Cine- Teatro Fênix
Dia 22 em Jacarezinho-PR no Cine-Teatro Iguaçu
Dia 24 em Andirá-PR no Cine-Teatro São Carlos
Dia 26 em Maringá-PR no Teatro Calil Haddad
Dia 27 em Cornélio Procópio-PR no Anfiteato da UFTPR

Todas com entrada franca, exceto Londrina e Itajaí, por fazer parte da programação do Festival de Dança e da 3ª Mostra de Dança Contemporãnea de Itajaí.

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Ficha técnica:
Criação e direção: Leonardo Ramos
Assistente de direção: Ana Maria Aromatario
Música: Sergei Prokofiev
Cenário: Maria Laura
Fotos: Olívia Orquiza, Celso Pacheco, Mario Bourges, Karina Yamada
Confecção de Figurino: Maria Aparecida

Elenco:
Alexandro Micale
Bruna Martins
Carina Corte
Cláudio de Souza
José Maria
Juliana Rodrigues
Luciana Lupi
Marciano Boletti
Viviane Terrenta

Técnicos de Palco: Arthur Limenza e Gustavo Batilano
Produção: Suzana Proença

Realização:
FUNCART / Prefeitura de Londrina

domingo, 7 de outubro de 2007

Decalque é sóbrio, mas contagiante por Miguel Anunciação - Crítico/Espetáculos – Jornal Hoje em Dia – B. Horizonte / MG


LONDRINA (PR) - Como o grupo Corpo aqui em Minas, a Cia Ballet de Londrina colocou em desuso a máxima que condena santos de casa ao descrédito: à sua maneira, a respeitada companhia de dança contemporânea constituiu seu público na maior cidade do norte do Paraná. Um público cativo e entusiasmado. Imagine que, em virtude da intensa procura de ingressos, «Decalque», sua montagem mais recente, ganhou seis semanas de apresentações! A temporada se encerra hoje, sob a mesma lona do Circo Funcart, que há muitos anos vem abrigando a vida bastante ativa do Ballet.

Basicamente inspirado em «Romeu e Julieta», do russo Sergei Sergeyevich Prokofiev (1891/1951), o espetáculo foi coreografado e dirigido pelo pernambucano Leonardo Ramos, fundador da companhia.

É um espetáculo sóbrio, mas contagiante - o You Tube disponibiliza trechos -, que a reportagem do HOJE EM DIA acompanhou no último final de semana. O público de BH poderá conferi-lo em 2008, na mostra de companhias presentes ao 1º Fórum de Dança - mais informações ao lado. Promessa de Lúcia Camargo, a diligente presidente da Fundação Clóvis Salgado. No tocante à cia de Londrina, ao invés de play back, a trilha deverá ser executada por orquestra sinfônica.

Luxo.

Com nove jovens bailarinos, «Decalque» se utiliza de vigorosos, exigentes movimentos de solo. «O elenco é coeso, tecnicamente afiado» e cumpre «uma hora de dança de qualidade», exaltou Helena Katz, a severa crítica de dança. O título remete à tarefa do elenco de assumir apenas traços de Romeu e/ou Julieta. Não espelhar exatamente o par romântico celebrizado pela dramaturgia de Shakespeare. De fato, não é possível avistar personagens no espetáculo, em que momentos os jovens amantes de Verona poderiam estar no palco.

No geral, as montagens de dança se comportam assim mesmo: mais insinuam que identificam. Sempre há bem mais subjetividade, por exemplo, na dança do que no teatro. Mas, sem dúvida, em «Decalque» estão contempladas as oscilações emocionais dos romances. Vê-se a variada dinâmica do amor. Inclusive entre iguais - e não é a primeira vez que a companhia assume os riscos desta briga.

Apesar da qualidade do programa, «Decalque» não um espetáculo acabado - o que, aliás, quase nenhum chega a ser. Convenhamos, a música soberba de Prokofiev impressiona mais fundo. É uma composição arrebatadora, plena de nuances. Mais que apreciá-la no espetáculo, é desejável possui-la, ouvi-la constantemente.

A pesquisa de linguagem do grupo, a coreografia eloqüente de Leonardo Ramos e o nível técnico dos bailarinos também merecem aplausos. Ocupam um patamar de excelência muito aproximado. A competência destes elementos fundamentais torna «Decalque» uma atração acima da média. Mesmo que a iluminação e os figurinos, bem básicos, intencionalmente criados para não atrair atenções, não contribuam. Diga-se, também não prejudicam. Já a seleção de cores da cenografia e o gosto duvidoso da imitação de vitral, que ocupa o fundo do palco, deveriam ser revistos. Em favor das muitas outras virtudes do espetáculo. Uma curiosidade: não há razão declarada para o número de bailarinos em cena ser ímpar - quatro rapazes e cinco moças. Quem sabe porque, em se tratando de amor, sempre haveria alguém do lado de fora, exposto ao granizo.

* Viajou a Londrina (PR) a convite da produção de «Decalque».

Carreira de sucesso

Visto por mais de três mil pessoas, «Decalque» estreou em junho, escalado na 39ª edição do Festival Internacional de Londrina (Filo). Depois passou por Piracicaba (SP), Cascavel (PR) e São Paulo. Agora inicia turnê pelo país e pelo exterior. Primeiro classificado no Concurso de Apoio à Circulação de Dança, da Secretaria da Cultura do Paraná, visita dez cidades do Estado até o final de dezembro. Entre 32 trabalhos inscritos, foi selecionado para encerrar a 3ª Mostra de Dança Contemporânea de Itajaí (SC), dia 28. E, em junho de 2008, deverá representar o Brasil no XX Danza Nueva Festival de Lima (Peru), junto com grupos de dança contemporânea da América Latina, EUA e Europa.

Criado em dezembro de 1993, o Ballet é mantido pela Fundação Cultura Artística de Londrina (Funcart). Prestes a completar 14 anos, já montou 20 espetáculos, realizou oito turnês nacionais, sete viagens internacionais (Cuba, Peru, Argentina e Zimbábue), somando mais de 400 apresentações e um público aproximado de 70 mil pessoas.

É uma das mais reconhecidas companhias profissionais fora do eixo RJ/SP. Além de inegável qualidade artística, desenvolve projetos de democratização à cultura. Um deles é a Escola Municipal de Dança, no qual mais de 200 crianças de classe média baixa freqüentam gratuitamente o curso de dança clássica. Muitos membros do Ballet são professores da Escola.

A companhia é velha conhecida dos mineiros: veio 11 vezes a Belo Horizonte - depois do Rio de Janeiro, é onde mais se apresentou fora de casa -, cinco em Mariana e sete em Ouro Preto. Da última vez, em 2004, trouxe o espetáculo «Fome». Atualmente, mantém 10 bailarinos no elenco.

Juliana Rodrigues, 24 anos, é mineira de Caxambu. Formada pela Royal Academy of Dancing, cursou dança no Cefar/Fundação Clóvis Salgado e integrou o Ballet Jovem do Palácio das Artes. Em 2005, foi premiada como melhor bailarina no concurso Passo de Arte. Integra o Ballet de Londrina desde janeiro.

Mais informações no www.funcart.art.br/balletdelondrina.htm

Discussões pertinentes

Amparado por mais de 20 anos de militância nas artes, Leonardo Ramos está convencido que no Brasil jamais teria havido um encontro tão importante na área em que milita, a de dança, quanto o 1º Fórum de Dança e 2º Encontro de Companhias Públicas. Realizado em Belo Horizonte, entre os dias 21 e 23 de setembro, o evento foi promovido pela Fundação Clóvis Salgado (FCS). Durante três dias, debates e mesas-redondas transcorreram das 9h30 às 20 horas e foram abertos ao público, gratuitamente. «Nunca havia acompanhado discussões tão pertinentes, tanta gente pensando tão profundamente. Foi uma experiência inesquecível, e acredito que ela deverá render muitos frutos daqui pra frente», exaltou o coreógrafo e diretor da Cia. Ballet de Londrina.

O encontro culminou com a redação da «Carta de Belo Horizonte» e registrou os principais itens discutidos: a necessidade de circulação de grupos privados e públicos; de mais espaço de crítica e divulgação da dança nos meios de comunicação; mais direitos trabalhistas aos profissionais da área, inclusive um plano especial de aposentadoria; e a criação mais de cursos superiores de dança em universidades públicas no Brasil. O documento redigido foi, na sequência, encaminhado à Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).

Cerca de 80 grandes profissionais das artes cênicas do país participaram do evento. Entre outros, o ator Celso Frateschi, presidente da Funarte; Mônica Mion, diretora do Balé da Cidade de São Paulo; Myrian Dausberg, produtora da Dell’Arte; Ana Francisca Ponzio, curadora do Centro Cultura Banco do Brasil (CCBB) e da Mostra Sesi de Dança/SP; Eliana Pedroso, diretora do Ateliê de Coreógrafos Brasileiros, da Bahia; Paulo Pederneiras, diretor do grupo Corpo; Christina Machado, diretora da Cia de Dança do Palácio das Artes/FCS; e o bailarino Rui Moreira, diretor da Cia Será Quê?.