quinta-feira, 21 de junho de 2012

Um ritual pagão em pleno Guaíra


Gazeta do Povo - Caderno G - HELENA CARNIERI
Apresentação de A Sagração da Primavera pelo balé do teatro com música da Orquestra Sinfônica atualiza relevância e ousadia das duas instituições
Adaptar ícones da história da arte nunca é fácil e, talvez por isso, a coreógrafa Olga Roriz tenha se mantido longe de A Sagração da Primavera por muito tempo.
Há alguns anos, porém, foi convencida de que seu estilo de dança renderia uma boa versão da obra revolucionária de Vaslav Nijinski, cujo balé, criado sobre a composição de Igor Stravinski, foi recebido em 1913 com entusiasmo pela vanguarda e com ojeriza pelos conservadores (veja o serviço completo do espetáculo no Guia Gazeta do Povo).
Entrevista
Osvaldo Ferreira, maestro a Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP).
“Uma das maiores obras da história da música”
Rafael Rodrigues Costa
O regente titular da OSP fala sobre o desafio de preparar A Sagração da Primavera, de Igor Stravinski (1882–1971), e explica a importância e as particularidades da obra, que estreou em 1913.
A nova coreografia de Olga Roriz para A Sagração da Primavera inspirou também uma interpretação mais particular da OSP para a composição de Stravinski?
Para a orquestra, a margem é sempre menor. E a música de Stravinski é muito pragmática, muito concreta. Ele escreve de um jeito que quase não permite grandes variações. Elas acabam surgindo mais para dar corpo às ideias da coreografia. Há apenas pequenos ajustes de tempo e dinâmicas.
A obra é lembrada como inovadora em sua época, e até como inauguradora da música moderna. Que características lhe conferem esta posição?
Até podemos dizer que é uma obra que rasga com todo um passado, mas não é tanto assim. Houve vários caminhos que convergiram para que ela acontecesse. Havia muitos movimentos no início do século 20. Stravinski teve o mérito de colocar muitas ideias embrionárias em um lugar só. Mas faz coisas realmente inusitadas na obra. Ele deixa o conteúdo melódico e a forma tradicional de usar os instrumentos da orquestra de lado. E é quase uma Bíblia para alguns em suas ideias da orquestração e assimetria rítmica – que, ao fim e ao cabo, é o que realmente mexe muito com as pessoas.
Foi o rompimento com essas “regras” que deu origem ao famoso tumulto da estreia da obra, em 1913?
A verdadeira razão para a obra ter sido vaiada e mal aceita por alguns na estreia, cada vez mais gente diz, na realidade foi o fato de a obra ter sido muito mal preparada e tocada. E, quer queira, quer não, porque a coreografia original, apesar de diferente, era monótona. As duas coisas combinadas não favoreceram a estreia. Mas, pouco depois, todos reconheceram que estavam à frente de uma das maiores obras da história da música.
Hoje ela ainda carrega esses traços de ruptura? Ainda tem impacto?
Hoje já é quase uma obra que pode ouvir quem ouve uma sinfonia de Beethoven, para quem está familiarizado com a música sinfônica. Mas tem impacto, sem dúvida. É uma obra que, mesmo para quem toca, para quem rege, é algo maravilhoso.
Serviço
A Sagração da Primavera
Teatro Guaíra (Pça. Santos Andrade, s/nº),            (41) 3304-7900      .
Com o Balé Teatro Guaíra e a Orquestra Sinfônica do Paraná.
Dias 21, 22 e 23, às 20h30, e dia 24, às 18 horas. Ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada).Classificação indicativa: livre.
Satisfeita com o resultado, a portuguesa trouxe a obra ao Balé Guaíra, que estreia a novidade hoje, 30 anos depois da primeira experiência do corpo de baile da casa com a obra-prima, coreografada então por Carlos Trincheiras. Agora, a música executada pela Orquestra Sinfônica amplia a relevância da produção (leia a entrevista ao lado com o maestro Osvaldo Ferreira).
A trama, inspirada em tradições pagãs e que mostra uma jovem designada pelo sábio da aldeia para o sacrifício de dançar até morrer em prol de boas colheitas, requer boas interpretações individuais dos protagonistas.
E essa é a especialidade de Olga, que conversou com a Gazeta do Povo. “Creio que consigo trabalhar bem a paixão, a morte e o sexo nos personagens. Minha linguagem é muito ritualística”, explica.
A moça eleita para dançar até a morte é vivida no balé por Ane Adade, com Alessandra Lange e Deborah Chibiaque como substitutas. O sábio, por André Néri e Raphael Ribeiro.
Relevância
Em dois atos, com um intervalo e total de 40 minutos, A Sagração da Primavera foi dividida originalmente em “Adoração da Terra” e “O Sacrifício”. Na música, Stravinski tirou inspiração de danças populares eslavas e privilegiou o ritmo primitivo e rústico em detrimento da melodia, o que, para o início do século 20, foi entendido como uma ofensa.
A partir da música, o trabalho da coreografia foi dar vida aos personagens, com uma visão teatral da dança. “Eu já tinha visto a versão de Pina Bausch e a achei perfeita. Não era necessário para minha carreira fazer algo que teria tantas comparações. Mas, então, ouvi de novo [a obra musical de Stravinski] e me apaixonei. E já não havia como voltar atrás.”
Ao criar sua visão dos movimentos para o balé, a artista se surpreendeu com a facilidade com que a obra “saiu de seu corpo”, “de maneira muito instintiva, o que tem a ver com a música e o tema”. Para ela, isso contribuiu para que o resultado mostrasse não só o corpo dos bailarinos, mas também o coração.
Escolhas
Entre as escolhas de Olga, sobressai a de não vitimizar a eleita. Mesmo que sua escolha signifique a morte, a personagem abraça sua missão como uma honra. A bailarina bate no peito e sorri desafiadora enquanto é observada. Na mesma linha, o sábio que orienta o sacrifício ganha um protagonismo incomum em relação a 
outras montagens, exercendo ao lado da eleita uma polarização interessante para o palco.
O espectador curioso irá querer saber qual a distância entre esta versão e aquela histórica, de 1913, que quase pôs abaixo o Teatro Champs-Elisée, de Paris. “A distância é a de cem anos”, ironiza a criadora. A partir daquela base original, ela enxerga a evolução da própria dança.
“O Balé Guaíra acertou em escolher esta obra neste momento. É uma peça com a qual eles poderão viajar pelo país e quem sabe até para fora. Não sei de nenhum outro grupo brasileiro que tenha uma versão atualmente.”

domingo, 17 de junho de 2012

Balé Guaíra e Orquestra Sinfônica apresentam clássico de Stravinsky

O Balé Teatro Guaíra e a Orquestra Sinfônica do Paraná compartilham o palco do Guairão para apresentar A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky. Com coreografia de Olga Roriz e regência do maestro Osvaldo Ferreira, o espetáculo será apresentado de quinta-feira (21) a domingo (24), com ingressos a R$ 10 e R$ 5.
A obra, que em 2013 completa cem anos, é considerada um dos marcos iniciais da modernidade. “Até hoje, a riqueza e a complexidade da Sagração causam surpresas ao primeiro contato com a obra, e é assim que esperamos emocionar o público nesta temporada”, diz a diretora-presidente do Teatro Guaíra, Mônica Rischbieter.
A Sagração da Primavera estreou no Teatro dos Champs-Élysées, em Paris, em 1913. Na apresentação, coreografada pelo russo Vaslav Nijinsky, a obra foi idolatrada pelos vanguardistas, mas causou indignação nos mais conservadores por se tratar um grande ritual sacro-pagão. Na coreografia, velhos sábios sentados em círculo observam a dança mortal de uma adolescente sendo sacrificada para ser oferecida ao deus da primavera em troca de boas colheitas para a tribo.
A montagem que será apresentada pelo Balé Teatro Guairá se distancia em dois aspectos do conceito original, como explica Olga Roriz, coreógrafa do espetáculo: “O primeiro é o protagonismo incomum do personagem do Sábio, que ocupa posição relevante nesta versão, e o segundo é o fato de a personagem da eleita não ser tratada como uma vítima, no sentido dramático da questão. Ela se sente privilegiada por ter sido escolhida e dança sem medo”. Os cenários e figurinos são de Pedro Santiago Cal.
A diretora do Balé, Cintia Napoli, destaca o desafio de levar este espetáculo ao palco: “Compartilhar A Sagração da Primavera significa potencializar uma real interlocução entre o pensamento artístico do mundo moderno e o contemporâneo. Consolidando a atuação do Balé Guaíra como articulador da arte, levar este espetáculo ao palco é mais do que um compromisso, é um dever”.
No segundo semestre, o BTG realiza turnê com A Sagração da Primavera em sete cidades do Paraná.
Serviço: 
A Sagração da Primavera, com Balé Teatro Guaíra e Orquestra Sinfônica do Paraná.
Dias: de quinta-feira (21) a domingo (24)
Horário: 20h30 de quinta a sábado às 18 horas no domingo
Local: Guairão – Auditório Bento Munhoz da Rocha Netto (Rua Conselheiro Laurindo, s/nº – Centro. Curitiba).
Ingressos: R$ 10. Meia-entrada conforme previsto em lei e desconto não cumulativo de 50% para associados do Cartão Teatro Guaíra.
Informações: (41) 3304 7982 | www.facebook.com/TeatroGuaira
Os ensaios dos dois grupos acontecem nesta segunda-feira (18), a partir das 19h30, e na terça e quarta, a partir das 20h30, sempre no Guairão.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A força feminina da Sagração de Olga Roriz

Por Maria Fernanda Gonçalves

Coreógrafa há 33 anos, a portuguesa Olga Roriz sempre ouviu de colegas do meio artístico que deveria criar sua própria versão para A sagração da primavera, obra eternizada por Igor Stravinsky (1882-1971) e Vaslav Nijinski (1890-1950), que estreou em 1913, em Paris.

Depois de muito relutar, acreditando que o balé já havia sido consagrado, tanto no original, quanto pelas mãos de Pina Bausch (1940-2009), que fez sua versão, em 1975, a diretora estreou, em 2010, sua recriação, com a companhia que leva seu nome, no Centro Cultural de Belém, Lisboa.

No trabalho, é possível ver a visão de mundo de Olga. Ela coloca a protagonista Eleita, por exemplo, na posição de mulher independente e forte, uma alusão ao possível papel das mulheres dos dias de hoje. Em junho, de 21 a 24, o público curitibano terá a oportunidade de conhecer a remontagem de A sagração da primavera, para o Balé Teatro Guaíra, companhia estatal do Paraná. A vinda do Olga ao País deve-se ao convite de Andréa Sério, que deixou a direção da companhia paranaense em fevereiro. O espetáculo terá o acompanhamento da Orquestra Sinfônica do Paraná, sob a regência do maestro titular Osvaldo Ferreira, no Grande Auditório.

Olga coloca a protagonista Eleita na posição de mulher independente e forte, uma alusão ao possível papel das mulheres dos dias de hoje. Leia, a seguir, entrevista de Olga, em que ela fala da recriação em Portugal e também da remontagem, no Brasil, com bailarinos nacionais.

Qual foi seu primeiro contato com A sagração?

O tempo parece não ter passado desde que, ainda jovem, interpretei o papel da Eleita, do coreógrafo Joseph Russillo, no Ballet Gulbenkian. Foi muito forte na época, uma peça que musicalmente me impressionou, mas coreograficamente não me impressionou tanto. Eu era estagiária e fiquei feliz, era um privilégio. Foi minha primeira e última experiência com a peça, assim mesmo, física.

O que a inspirou a mudar de ideia e criar a sua Sagração?

Colegas da dança foram me convencendo de que eu poderia fazer uma coisa muito minha. Comecei a ouvir a música, apesar de ser uma pessoa que tem uma relação com a música muito distante. Não escolho as músicas para fazer coreografias, mas faço as coreografias e escolho as músicas depois. Na Sagração, o essencial é a música e o roteiro escrito pelo Stravinski. Ambos me serviam plenamente para dizer o que eu queria. Portanto, o que fiz foi ler uma série de coisas sobre A sagração, do ponto de vista do coreógrafo, e ler muito bem o roteiro. Também ouvir a peça... não muitas vezes. Gosto de ter uma sensação e deixar que fique na memória e um pouco colada à pele. Aos poucos, fui aceitando que eventualmente seria bom fazer uma Sagração. O fascínio e o respeito pela partitura foram determinantes para a minha interpretação, construção dramatúrgica e coreográfica da peça.

Como é a estrutura coreográfica da sua obra?

Concedi ao personagem do Sábio um protagonismo invulgar, sendo ele que inicia a peça. Ainda em silêncio e durante todo o prelúdio, ele habita o espaço solitário e vazio traçando nos seus gestos um percurso de premonição, antecipação e preparação. Eu dou um lugar primordial a ele, num solo, num agarrar do espaço, numa contenção de energia e uma destruição ao mesmo tempo, no qual ele vem a preparar o terreno para o ritual. Distanciando-se drasticamente do conceito original, a personagem da Eleita não é tratada como uma vítima no sentido dramático da questão. A minha Eleita sente-se uma privilegiada e quer dançar até sucumbir. Em nenhum momento sente-se obrigada ou castigada, nem o medo a invade. Ela expõe sua força e sua energia vitais lutando cegamente contra o cansaço, não quer ter nenhuma influência do exterior, não quer que nenhuma mulher a substitua, nem que nenhum homem a ajude, ela quer ser independente, cheia de força, comparável à mulher de hoje.

Não há grandes filosofias. É uma peça feminina, por causa desta mulher, cheia de paixão, de vitalidade e de uma cumplicidade de grupo grande, em que as aspirações em uníssono são algo muito forte. Ninguém sai, ninguém entra, portanto quando entra não sai mais. Mesmo quando há protagonismo, tanto da Eleita quanto do Sábio, todos estão ao redor vendo e ouvindo o que dizem.

Como está sendo o trabalho da remontagem com o Balé Teatro Guaíra?

Tive que fazer audição. Tinha uma ideia de quem escolher para o Sábio e a Eleita (serão interpretados por André Neri e Ane Adade). Mas não tinha escolhido o grupo de onze mulheres e dez homens. É uma dificuldade normal. E o tempo, muito pouco tempo – duas semanas – para montar A sagração, uma peça muito complexa musicalmente. E depois muito nova para eles fisicamente. Felizmente tenho minha ensaiadora, Silvia Rijmer, que dá aulas, ajuda a prepará-los física e tecnicamente. Não é fácil entrar numa companhia que não tenha relação com a linguagem do coreógrafo e não é de um dia para o outro que se consegue fazer. Acredito que eles vãodançar muito bem. São profissionais e estão com essas dificuldades de como fazer meus movimentos e os entender bem, e conseguir em curto espaço de tempo pôr em seu corpo uma técnica muito diferente.

Neste momento, eles têm uma força de vontade enorme, uma paixão pelo que fazem, boa energia. Diria que a cada dia entram mais na Sagração. O papel de Eleita é mais complicado, pois tem que ser uma mulher que esteja completamente conectada com minha linguagem. Tem que se ter uma força da natureza nesse papel. Além de compreender bem o que está dançando, tem que sobrepor isso e trazer sua personalidade, sua energia, tudo o que tem lá dentro emocionalmente. Para tanto, é preciso passar uma série de obstáculos técnicos. Depois disso, vai poder se desnudar completamente e, no caso do André, a mesma coisa. Minhas peças não são só físicas, têm muita vivência, muita criatividade. Pode-se ser muito inteligente, mas não ter ainda a matéria para poder trabalhar uma peça destas.

Como um bailarino/artista te inspira?

Eu trabalho sobre a pessoa, mais do que sobre o bailarino. Na minha companhia, os artistas são escolhidos pelo que são como pessoas e não pelo que são como bailarinos. Se eu consigo juntar as duas coisas é ótimo, sobretudo no lado criativo e na qualidade do movimento. Se há um conhecimento do corpo, esse é um material para poder comunicar aquilo que se quer. Uma pessoa sem vivências e sem cultura geral hoje em dia já não interessa a um coreógrafo. Eventualmente, é por isso que a maior parte das pessoas que trabalham em minha companhia tem mais de mais de 35 anos. Quantas vezes dei referências a bailarinos que não sabiam do que estava falando. Gosto de trabalhar com os problemas, os fantasmas, os medos, tudo o que o ser humano tem é tema de trabalho, e não o pezinho, a mãozinha e o bracinho.

"Colegas da dança foram me convencendo de que eu poderia fazer um balé muito meu"Eu inspiro a mim mesma, mas as pessoas fazem parte de mim. Elas me inspiram também porque já estão dentro de mim. A memória e as vivências estão aqui. Portanto, elas fazem parte do meu universo criativo.





terça-feira, 5 de junho de 2012

Balé Teatro Guaíra e Orquestra Sinfônica do Paraná se preparam para A Sagração da Primavera


Apresentações começam no dia 21 de junho no Guairão

Dois grupos artísticos mantidos pelo Teatro Guaíra se preparam para apresentar a montagem do balé A Sagração da Primavera, do compositor russo Igor Stravinsky. O Balé Teatro Guaíra e a Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) dividem o palco do Guairão nos dias 21, 22 e 23, às 20h30, e 24 de junho, 18 horas.

A Sagração da Primavera foi escrita em 1913 baseada em um sonho que o compositor teve com um grande ritual sacro-pagão. No rito, velhos sábios sentados em círculo observavam a dança mortal de uma adolescente que era sacrificada para ser oferecida ao deus da primavera em troca de boas colheitas.

A versão apresentada é da coreógrafa Olga Roriz, com cenários e figurino de Pedro Santiago Cal. A regência fica por conta do maestro da OSP, Osvaldo Ferreira.

Os ensaios dos dois grupos serão de 12 a 18 a partir das 19h30 e dias 19 e 20 de junho a partir das 20h30, sempre no Guairão.

Serviço

A Sagração da Primavera, com Balé Teatro Guaíra e Orquestra Sinfônica do Paraná

21, 22 e 23, às 20h30, e 24 de junho, às 18 horas

Guairão - Auditório Bento Munhoz da Rocha Netto (Rua Conselheiro Laurindo, s/nº – Centro. Curitiba).

Ingressos: R$10. Meia-entrada conforme previsto em lei e desconto não cumulativo de 50% para associados do Cartão Teatro Guaíra.

Informações: (41) 3304 7982
www.facebook.com/TeatroGuaira

Fonte: CCTG