terça-feira, 23 de outubro de 2012

A sagração da primavera angustia e encanta o público recifense

Grupo fez duas apresentações no Teatro de Santa Isabel dentro da programação do 17º Festival de Dança do Recife.

Intenso, pulsante, com imagens cinematográficas, que vão ficar para sempre cravadas na mente do espectador. Quem não foi ao Teatro de Santa Isabel para ver o Balé Teatro Guaíra em duas apresentações realizadas no último domingo e na noite de segunda-feira, a convite do 17º Festival de Dança do Recife, perdeu a oportunidade de acompanhar uma das peças que revolucionou o modo de se fazer dança no mundo ocidental. O mais incrível é pensar como A sagração da primavera permanece atual, mesmo quase 100 anos depois de sua estreia, em maio de 1913, quando levou uma sonora vaia da intelectualidade parisiense e inaugurou o Modernismo na arte. Somente no domingo, foram 548 pessoas na plateia e camarotes do teatro. Na noite da segunda-feira, o público era menor, mas a parte da plateia estava bem cheia.


A vigorosa versão de criada pela portuguesa Olga Roriz é inspirada na obra original, com coreografia de Nijisnky e música do compositor Stravinsky. Mas também guarda semelhança com a adaptação proposta pela alemã Pina Bausch no começo de seu trabalho à frente da companhia que a consagraria, o Tanztheatre Wuppertal, na década de 1970.

Cabe aos 22 bailarinos no palco contar a história de uma mulher oferecida em sacrifício ao Deus da Primavera, para que fossem boas as colheitas. São 40 minutos de encenação, numa coreografia crescente, que angustia quem vê ao mostrar o horror da eleita diante da morte, as batidas do elenco inteiro com as mãos no peito, a música primorosa, sufocante.

Nos primeiros 10 minutos, apenas os homens estão dançando. O Deus da Primavera primeiro, depois os outros se juntam a ele e trazem sacos com serração (pó de serra), que serão espalhados pelo chão, forrado com um linóleo acinzentado, de algodão. Este elemento é determinante para os efeitos cênicos que se seguem, em momentos como quando as mulheres caem e se erguem balançando os cabelos, todos longos, espalhando o pó amarelado para o alto. Ou quando todo o elenco se debate no chão, como se sofresse convulsões.

As mulheres são todas esguias, trajando vestidos acetinados e coloridos. Os homens usam calça e camisa de botão e todos vão ficando desgrenhados, ofegantes, à medida que se entregam à coreografia. Uma das cenas mais belas e impactantes é quando esguichos de água caem do teto, provocando um efeito visual cinestésico, em que o líquido se espalha como se fossem o espectro de fantasmas, capazes de acalmar e paralisar ao mesmo tempo. Um espetáculo para ficar na memória.

Fonte: Diário de Pernambuco

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