terça-feira, 22 de abril de 2008

Decalque - Jornal da Manhã - Ponta Grossa / PR






O Jornal da Manhã e a Secretaria Municipal de Cultura trazem a Ponta Grossa o espetáculo ‘Decalque’, da Cia. Ballet de Londrina. A apresentação acontece no dia 3 de maio, no Cine Teatro Ópera, e integra a Semana de Cultura.

‘Decalque’ é resultado de um processo de pesquisa iniciado pelo Ballet de Londrina em 2006

Ponta Grossa recebe no início de maio uma grandiosa apresentação de dança contemporânea. O renomado Ballet de Londrina vem à cidade para apresentar o seu novo espetáculo, ‘Decalque’, que marca as comemorações pelos 15 anos da companhia e integra a programação da Semana Municipal de Cultura. A apresentação será no sábado de 3 de maio, às 20 horas, no Cine-Teatro Ópera, numa promoção conjunta entre Secretaria Municipal de Cultura e Jornal da Manhã.
Extremamente requisitada, a companhia está agora no Nordeste, onde fará apresentações em cinco cidades: Natal (Rio Grande do Norte), Aracajú (Sergipe), João Pessoa (Paraíba), Maceió (Alagoas) e Salvador (Bahia). Em seguida, o grupo vem a Ponta Grossa, daí a Curitiba e Florianópolis (Santa Catarina). Volta a Londrina, depois segue para Alegrete (Rio Grande do Sul), Rio de Janeiro e Lima, no Peru.
Conforme o coreógrafo e fundador do grupo, Leonardo Ramos, a agenda do grupo começa a apertar geralmente a partir de abril. E isso foi assim desde o primeiro ano da companhia. “Em 94 já fizemos a nossa primeira turnê. A partir daí, uma vez a cada dois anos, em média, temos uma turnê nacional”, explica. Além dos espetáculos no Brasil, a companhia já esteve três vezes no Peru, duas vezes na Argentina, três vezes em Cuba e uma vez na África.
Entre as premiações recebidas estão ‘Bolsa do Instituto Vitae para o diretor e coreógrafo Leonardo Ramos – Seminário de Novas Técnicas Coreográficas, em Buenos Aires (1997); Prêmio estímulo do Programa EnCena Brasil (Funarte/Minc, de 2001) para a montagem do espetáculo ‘Nunca’; Prêmio estímulo do Programa EnCena Brasil (Funarte/Minc, de 2002) para a montagem do espetáculo ‘Eternamente’; e Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna Grupo IV – Funarte/MinC, com o patrocínio da Petrobrás para a montagem do espetáculo ‘Fale Baixo’, em abril de 2006.

O processo de criação

O espetáculo ‘Decalque’ é resultado de um processo de pesquisa iniciado pelo Ballet de Londrina em 2006, com o espetáculo ‘Fale Baixo’, cuja proposta principal foi trabalhar novos e diferentes eixos de equilíbrio e apoios para locomoção. Na exploração desse processo, foi na música ‘Romeu e Julieta’, de Prokofiev, que se identificou a energia do movimento investigado no atual momento. Desta forma, a opção por montar este clássico de Shakespeare não partiu da idéia de contar a já tão conhecida história dos dois amantes de Verona, mas usá-la como substrato para a construção da dança. O motivo principal da criação não foi o tema, mas o movimento.
O processo foi um desafio para o elenco que, tendo corpos solidamente formados na vertical, através de anos de estudo de balé clássico, teve que construir novos apoios e eixos, fazendo de suas limitações fonte de descoberta de movimentos singulares e até dotados de algum ineditismo. O espetáculo apresenta um roteiro de movimentos que conduz os personagens/bailarinos a transitarem em um plano onde o físico é exigido ao extremo, criando assim o ambiente da obra.
Leonardo Ramos, coreógrafo do grupo, conta que o preparo físico dos dançarinos, dessa forma, foi trabalhado para que os corpos estivessem mais fortalecidos. “As mulheres, principalmente, tiveram que fortalecer o corpo para estar com pé de igualdade com os homens. E todos trabalham no espetáculo de cabeça raspada, porque estamos trabalhando com menos individualidades de cada um”, destaca Ramos, ao ressaltar que a intenção foi confundir homens e mulheres.

A arte do movimento

Não é por acaso que o espetáculo chama-se ‘Decalque’. A intenção, segundo Leonardo Ramos, não era reproduzir ‘Romeu e Julieta’, mas transpor a linguagem do teatro para a dança, sem qualquer obrigação com o enredo e a história, mas com as ações que fazem perceber a obra de Shakespeare por outra ótica.
Dessa forma, o drama aparece apenas através de lembranças que quase todos têm da já tão conhecida história. O título ‘Decalque’, sem a preocupação com o sentido muitas vezes negativo que a palavra pode carregar, foi então perfeito para a obra. Definida pelos dicionários como ato de copiar; imitação, plágio, a palavra também é apresentada como qualquer imagem que lembre aquela obtida pelo decalque, ou ainda, como fazer aparecer ou surgir, como que reproduzido por decalcomania (processo de transportar desenhos de um papel para outro papel).
Em ‘Decalque’, mais que a narrativa, o que se explora, são os aspectos universais vividos pelos personagens como a questão do destino, da solidão, da paixão, da proibição, da morte. O público, por vezes, encontrará referências claras ao enredo, mas isso logo é esquecido, ficando aquilo que foi o motivo da criação: o movimento. Não há só um Romeu ou uma Julieta. Os bailarinos se revezam nestes papéis nas mais diversas combinações e fragmentos de cena se reproduzem, como que por decalque, com diferentes bailarinos, em diferentes momentos. Os demais personagens não estão presentes na sua totalidade, havendo apenas algumas aparições, mas sem um compromisso de identificá-los para o público. A idéia é provocar impressões de personagens e situações dramáticas, mais que apresentar personagens ou desenvolver situações literais.
A obra ‘Romeu e Julieta’ já foi explorada por Leonardo Ramos em dois trabalhos anteriores do Ballet de Londrina: o dueto ‘...&...’, em 1996, apenas para a música do balcão de Prokofiev, e ‘ 2 e nada mais’, em 1998, para a música ‘West Side Story’ de Bernstein. No entanto, é em ‘Decalque’ – cuja música e tema, a princípio, serviriam de simples substrato - que a força e dramaticidade da trilha, da história e da coreografia se apresentam com maior impacto, nitidez e emoção. Resultado tanto do trabalho de pesquisa de movimento, quanto do amadurecimento do elenco e do coreógrafo.

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