terça-feira, 29 de abril de 2008

Shakespeare decalcado - Ballet de Londrina relê ‘Romeu e Julieta’ em espetáculo, hoje, na Sala do Coro do TCA


Ana Cristina Pereira


O ponto de partida do espetáculo Decalque, novo trabalho do Ballet de Londrina, é a tragédia Romeu e Julieta, de William Shakespeare. Antes que alguém pergunte por que mais uma versão para o clássico, Leonardo Ramos, diretor e coreógrafo da companhia paranaense, se antecipa dizendo que está muito mais interessado na emoção que ela provoca do que na história propriamente dita. Por isso, o nome Decalque, que remete ao ato de copiar, imitar, transportar de um lugar para o outro.

Em turnê nordestina, a montagem chega a Salvador para apresentação única hoje, às 20h, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. “Estamos propondo uma série de transferências”, sintetiza Leonardo, 45 anos. A primeira delas, aponta, é a apropriação pela dança de um texto teatral, absolutamente narrativo. E depois, seu abandono, já que não há sequer a escalação de protagonistas para viver o casal de amantes de Verona.

Os nove bailarinos se revezam em vários romeus e julietas, em muitas combinações, inclusive formando pares do mesmo sexo. A idéia é fazer com que, através da forte movimentação, venha à tona lembranças e sensações que a história romântica possa suscitar. Uma das mais fortes, afirma Leonardo, é a da inexoralidade do destino, de reconhecer que aquelas duas pessoas estão presas a algo forte, pré-determinado. Outras sensações são o próprio romantismo inerente à obra, à paixão, à intolerância e à morte.

Obviamente que as respostas dependem muito do tipo de referencial que cada espectador tem do texto shakespeariano. Um dado curioso descoberto pela produção, que em algumas exibições distribuiu questionários à platéia, é que, de uma forma geral, as pessoas não conhecem muito bem a história. “Principalmente os mais jovens”, diz Leonardo, que recorre a Romeu e Julieta pela terceira vez. Ele já assinou os duetos ...&... (1996) e Dois e nada mais (1998).

Com figurino, cenário e iluminação muito simples, Decalque se sustenta basicamente na movimentação e na música Romeu e Julieta, do russo Sergei Prokofiev. O coreográfo explica que a composição, um clássico contemporâneo, se identifica perfeitamente com a energia do movimento investigada na atual fase pela companhia. “Estamos pesquisando diferentes eixos de equilíbrio e apoios para locomoção, com um trabalho de corpo muito próximo do chão”, afirma.

Para valorizar ainda mais o movimento, os bailarinos rasparam o cabelo, não utilizam sapatilhas e sequer maquiagem. “A dança está em primeiro plano”, reforça o coreógrafo, destacando que a maior marca do grupo é a energia e a força e que essa fase atual teve início em 2005, com Prazeres.

Desde 2004 que o Ballet de Londrina não se apresenta no Nordeste. A atual turnê, iniciada no dia 18 de abril, em Natal, marca o início das comemorações dos 15 anos da companhia. O grupo passou também por João Pessoa, Aracaju, Maceió e encerra aqui em Salvador. “Conheci a Sala do Coro quando vim para o Ateliê de Coreógrafos e acho que é bem apropriada para Decalque, pois cria uma proximidade com a platéia”, afirma Leonardo.

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A companhia

Com sede no interior paranaense, o Ballet de Londrina é uma das poucas companhias de dança do país não sediadas numa capital e que tem mantido uma regularidade em sua atuação. Já tem 20 trabalhos no currículo, dez turnês nacionais e sete viagens internacionais para festivais em países como Cuba, Peru e Argentina, totalizando mais de 400 apresentações.
A música

Utilizada em muitos espetáculos de dança em todo o mundo, a música Romeu e Julieta, composta em 1936 pelo russo Sergei Prokofiev, teve um começo de tropeços. Foi recusada pelos balés Kirov e Bolshoi, sob acusação de que a tragédia não era um tema apropriado para um balé (pelo primeiro) e que a peça era “indançável”. Só com a montagem do Ballet do Teatro Nacional de Brno, em 1938, na República Checa, que alcançou grande repercussão, a música começou a sua carreira.

As montagens do Kirov e do Bolshoi vieram, respectivamente, em 1940 e 1946, ampliando o sucesso da composição. Em sua autobiografia, Prokofiev explica que decidiu criar mais uma obra a partir da tragédia de Shakespeare porque estava atento aos aspectos líricos de sua música e uma trilha baseada no drama Romeu e Julieta lhe permitiria explorar completamente esse elemento lírico, através das emoções dos personagens. Criada em 1993, a companhia é mantida pela Fundação Cultura Artística de Londrina – Funcart, ONG cujo principal objetivo é democratizar o acesso à formação e produção cultural. Associado ao Ballet funciona, por exemplo, a Escola Municipal de Dança, também dirigida pelo bailarino e coreógrafo Leonardo Ramos, pernambucano radicado no Paraná há quase 30 anos.

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A música

Utilizada em muitos espetáculos de dança em todo o mundo, a música Romeu e Julieta, composta em 1936 pelo russo Sergei Prokofiev, teve um começo de tropeços. Foi recusada pelos balés Kirov e Bolshoi, sob acusação de que a tragédia não era um tema apropriado para um balé (pelo primeiro) e que a peça era “indançável”. Só com a montagem do Ballet do Teatro Nacional de Brno, em 1938, na República Checa, que alcançou grande repercussão, a música começou a sua carreira.

As montagens do Kirov e do Bolshoi vieram, respectivamente, em 1940 e 1946, ampliando o sucesso da composição. Em sua autobiografia, Prokofiev explica que decidiu criar mais uma obra a partir da tragédia de Shakespeare porque estava atento aos aspectos líricos de sua música e uma trilha baseada no drama Romeu e Julieta lhe permitiria explorar completamente esse elemento lírico, através das emoções dos personagens.

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FICHA

Espetáculo: Decalque
Direção e coreografia: Leonardo Ramos
Música: Sergei Prokofiev
Elenco: Alexandro Micale, Bruna Martins, Carina Corte, Cláudio de Souza, José Maria, Juliana Rodrigues, Luciana Lupi, Marciano Boletti, Viviane Terrenta.
Local: Sala do Coro do Teatro Castro Alves (Campo Grande)
Ingressos: R$10 (inteira)

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