Caderno G - | Annalice Del Vecchio
“A história de Romeu e Julieta acontece todos os dias.” A frase do diretor e coreógrafo do Ballet de Londrina, Leonardo Ramos, justifica a criação de um espetáculo de dança em que a obra mais popular de Shakespeare será reconhecida pelo público sem a necessidade de narrativa, figurinos de época e objetos de cena, como o punhal e o vidrinho de veneno usados pelos protagonistas na cena final.
É a montagem Decalque, que o grupo londrinense apresenta hoje e amanhã, às 20h30, no Guairinha. “A gente abriu mão de qualquer coisa. Alguns bailarinos têm a cabeça raspada, não usam maquiagem; o figurino é simples, neutro e o cenário, funcional”, conta.
A palavra que nomeia o espetáculo diz muito sobre ele, mas deve ser entendida em seu sentido positivo, o de qualquer imagem que, transferida de seu lugar original, ainda possa ser identificada – no caso, a transferência da obra teatral do bardo inglês para a dança contemporânea. “O decalque (do título) tem relação com memória do espectador. A gente não precisou contar a história, partindo do pressuposto de que todo mundo lembraria dela”, diz o diretor.
O reconhecimento da história, neste espetáculo, se dá pelos movimentos dos 12 bailarinos em cena – que incorporam, todos eles, os dois protagonistas da tragédia inglesa. Ramos conta que foi um desafio para o grupo criar movimentos singulares a partir de apoios e eixos bem diversos daqueles a que estavam acostumados. “O elenco teve que enfrentar uma série de adaptações em oito meses de preparação. Nossa origem é a formação de dança clássica”, conta.
Adaptações de Romeu e Julieta são recorrentes ao longo da trajetória do Ballet de Londrina, que completa 15 anos (leia quadro). Em 1997, com um dueto recriou apenas a famosa cena do balcão, com música de Sergei Prokofiev. No ano seguinte, 2 e Nada Mais atualiza a versão ao utilizar o musical West Side Story, de Leonard Bernstein.
Em Fale Baixo, espetáculo de 2006, o grupo começava o processo de pesquisa de novos eixos de equilíbrio e apoios para locomoção que, conta Ramos, serviriam para encenar a história narrada na música de Prokofiev sem o compromisso de contar a história.
Decalque estreou em 2007, no Festival Internacional de Londrina (Filo), e obteve excelentes comentários da crítica local e, posteriormente, nacional – quando foi apresentado em São Paulo. Com a aprovação no edital do Governo de Estado da Cultura, o espetáculo foi apresentado em 11 cidades do Paraná e na Região Nordeste.
Após Curitiba, a sétima capital brasileira a ver a montagem, o grupo segue para Florianópolis, Alegrete e Umuarama. Em junho participa, pela terceira vez, como convidada do Festival Nueva Danza de Lima (Peru).
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Serviço:
Decalque. Espetáculo do grupo Ballet de Londrina (R. XV de Novembro, s/nº), (41) 3315-0979. Criação e direção Leonardo Ramos. Música de Sergei Prokofiev. Dias 7 e 8, às 20h30. Ingressos a R$ 10. Desconto de 50% para clientes com o cartão Teatro Guaíra.
A trupe
Leia a respeito da história da companhia de dança londrinense:
• O espetáculo Decalque comemora os 15 anos do Ballet de Londrina. Formado por dez bailarinos, sob direção de Leonardo Ramos, já montou e apresentou 20 espetáculos de dança contemporânea, fez nove turnês nacionais e sete viagens internacionais. Ao todo, foram 400 apresentações para um público de cerca de cem mil pessoas.
Eixo, força, equilíbrio: grupo contemporâneo, de formação clássica, teve que se adaptar aos novos movimentos
Cabeça raspada, nada de maquiagem, figurino simples: valorização do movimento
• A companhia é mantida pela Fundação Cultura Artística de Londrina (Funcart), organização não-governamental que viabiliza, por meio de projetos, o acesso à formação e produção cultural de qualidade. Um deles é a Escola Municipal de Dança, em parceria com o Ballet de Londrina, que leva a dança clássica a mais de 500 crianças de classe média e baixa. A Escola já formou profissionais que integram, hoje, o Ballet de Londrina.
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